quarta-feira, 10 de março de 2010

Entrevista a Aníbal Campos

O novo Presidente da Direcção da AIMMAP, Aníbal Campos, concedeu uma entrevista à revista "TecnoMetal", publicada na edição nº 186, na qual enunciou, entre outras matérias, algumas das ideias que pensa implementar no exercício do seu novo cargo.

Atendendo à importância deste assunto, publica-se nas linhas subsequentes, na integra, o texto da entrevista em causa.

"TecnoMetal entrevista Aníbal Campos, actual Presidente da Direcção da AIMMAP
Tendo assumido recentemente o cargo de Presidente da Direcção da AIMMAP, começamos por perguntar-lhe quais os principais projectos que tenciona implementar nessas suas funções.
Sem fugir minimamente a essa questão, gostaria de dizer que, neste momento, seria muito pouco razoável estar a anunciar novos projectos.
Com efeito, conforme é sabido, fui empossado neste cargo num momento em que o mandato em curso dos órgãos sociais está praticamente a acabar.
Pelo que seria absurdo estar agora a introduzir grandes alterações ao que tem vindo a ser efectuado. Em primeiro lugar por uma questão de oportunidade, pois como referi o mandato em curso irá terminar muito em breve. Faço parte da actual Direcção desde o início do mandato, integrei inclusivamente as Direcções anteriores, e revejo-me naquilo que foi feito pelo meu antecessor, o meu Amigo e colega António Saraiva, o qual, aliás, sublinhe-se, assumiu desde o início uma governação consensual da associação. Sendo certo ainda que entendo também que o trabalho anterior foi bem feito, não faria agora qualquer sentido alterar a estratégia que tem vindo a ser seguida.
Como é evidente, e tal como já tive oportunidade de sublinhar, não deixarei de tentar introduzir novas marcas na governação. Aliás. só assim é que as organizações podem evoluir. Mas mudar por mudar não é seguramente uma boa opção. E além disso, este não será ainda o timing adequado para introduzir diferenças na governação e no trabalho da associação.
Qual será então o momento adequado para tal efeito?
Julgo que não será novidade para os mais atentos à vida associativa da associação que aceitei o desafio de encabeçar uma lista de candidatura aos órgãos sociais da AIMMAP para o próximo mandato, no lugar de Presidente da Direcção. Inclusivamente, a actual Direcção anunciou já que iria apoiar essa candidatura. Pelo que, caso os associados entendam confiar na lista que irei apresentar e nos venham a eleger, aí sim, será oportuno fazê-lo. Em todo o caso, iremos anunciar o nosso programa de candidatura muito em breve.
Será possível antecipar o anúncio de algumas dessas medidas?
Obviamente que sim e terei todo o gosto em fazê-lo desde já. A minha participação na vida da AIMMAP é absolutamente transparente e mau seria que não me dispusesse a dizer antecipadamnete o que tenciono fazer se continuar Presidente da Direcção nos próximos 3 anos. O que não quero é apenas colocar o carro à frente dos bois.
Posto isto, gostaria de sublinhar que a orientação estratégica da AIMMAP não pode nem deve ser alterada. Essa estratégia assenta fundamentalmente na importância da afirmação do sector metalúrgico e metalomecânico no contexto da economia portuguesa. E por outro lado, na defesa de uma aposta na diferenciação por parte das empresas.
Nesse contexto há algumas matérias em que pretendemos ser particularmente assertivos.
Em primeiro lugar, defenderemos a aposta na internacionalização das empresas como um verdadeiro desígnio nacional. Considerando que as empresas dificilmente poderão crescer no exíguo mercado nacional, penso que o país apenas poderá criar verdadeira riqueza se aumentarem as exportações. Nesse sentido, é fundamental que, pelo menos nesta fase mais próxima, sejam aumentados os apoios à internacionalização das empresas.
Essa é uma responsabilidade que incumbirá ao Governo e à própria AICEP. Mas cabe-nos ajudar as autoridades a encontarem o melhor rumo. Analisando o que o Governo anunciou recentemente nesse âmbito, estou convencido de que haverá condições para fazer um bom trabalho em prol das empresas e designadamente do aumento da respectiva capacidade exportadora. Em todo o caso, devo dizer que me inquieta que até ao momento não tenha ainda havido quaisquer sinais relativamente ao cumprimento de uma medida que constava do programa eleitorial do Partido Socialista, a qual se consubstanciava no aumento dos incentivos não reembolsáveis às acções de promoção no exterior de 45% para 70%.
Outro ponto que nos parece muito importante tem que ver com uma renovada concepção da Inovação. Um modelo mais alargado que não se cinja às acções de Investigação & Desenvolvimento. Que incida nos produtos, nos processos e até mesmo nos sistemas de organização das empresas. É preciso reconhecer um modelo de Inovação que seja ajustado à realidade das pequenas e médias empresas.
Iremos igualmente apostar na formação no sector, aí enfatizando a formação especialmente vocacionada para empresários. Para tal efeito, iremos naturalmente tentar reforçar sinergias com o CENFIM e o CATIM.
Estas serão algumas das ideias-chave que, no caso de virmos a ser eleitos, estarão presentes no nosso discurso e no nosso trabalho.
Independentemente do exposto, o essencial das nossas energias estará evidentemente centrado no desejo de apoiar as empresas associadas em particular e o sector em geral nos difíceis combates que se avizinham.
Considera que o sector metalúrgico e metalomecânico tem sido alvo da atenção que merece por parte do poder político?
Julgo que é evidente que o sector não tem sido incentivado e acarinhado como mereceria. Temos trabalhado ao longo dos últimos anos no sentido de mudar esse estado de coisas. E continuarei a empenhar-me seriamente no mesmo sentido.
Temos um problema estrutural que decorre do facto de o sector ser bastante heterogéneo. Isso poderá prejudicar a nossa afirmação estratégica face ao exterior, mas não desculpa a inércia dos sucessivos governos.
Sem entrar em competições absurdas como outros sectores, penso que não poderá deixar de ser reconhecido que o nosso sector revela indicadores de excelência. Somos o sector que mais contribui para as exportações portuguesas, aquele que mais investimento tem gerado numa conjuntura mais dificil como a que vivemos actualmente, consegue criar com alguma regularidade novos postos de trabalho.
Mesmo ao nível de outro tipo de indicadores mais específicos a performance do sector é notável. Há cada vez mais empresas certificadas, há um significativo investimento no domínio da propriedade industrial, o cumprimento pelas normas de prospecção ambiental é crescente e a sinistralidade laboral tem reduzido.
Julgo pois que temos toda a legitimidade para exigir do Estado e da própria sociedade que seja mais reconhecido o nosso trabalho em prol da economia e do bem estar das pessoas.
Não tenhamos porém dúvidas que há um longo caminho ainda a percorrer para que isso aconteça. Mas estou certo de que nos encontramos no rumo certo.
Mudando de assunto, como irá conseguir explicar aos seus congéneres de outros países o facto de haver duas grandes associações no sector metalúrgico e metalomecânico em Portugal?
Com muita dificuldade, como é óbvio. E tenho a esperança de que, mais tarde ou mais cedo, haverá condições para que haja uma voz única no sector. Em todo o caso, no meu entendimento as empresas é que são soberanas nessa matéria. Pelo que, quando na sua maioria decidirem que é tempo de mudar a actual realidade nesse âmbito, não tenho dúvidas de que a sua vontade prevalecerá. Da minha parte tudo farei nesse sentido.
Qual será o envolvimento da AIMMAP na CIP?
O mesmo de sempre. Ou seja: intenso, leal e construtivo. A AIMMAP defende, com a minha absoluta concordância, que a CIP é o legítimo representante da indústria em Portugal. E queremos que assim continue a suceder.
Tenho a convicção de que se perspectivam tempos muito dificeis para as empresas portuguesas. É preciso que a CIP seja forte e esteja coesa no sentido de ajudar as empresas a enfrentar as dificuldades. Na medida das nossas possibilidades, tudo faremos naturalmente para contribuir para essa força e coesão. E sempre que sejamos chamados a ajudar no que quer que seja nesse âmbito, daremos o nosso contributo de forma empenhada e desinteressada."

segunda-feira, 8 de março de 2010

Uma nova abordagem da Inovação das empresas

No editorial da edição nº 186 da revista "TecnoMetal", o Presidente da Direcção da AIMMAP chamou a atenção para importância da inovação nas empresas, reclamando ainda que o conceito de inovação seja repensado e ajustado à realidade das PME.
Enfatizando a pertinência e a oportunidade do tema abordado por Aníbal Campos, insere-se nas linhas subsequentes deste blogue o texto correspondente ao editorial em causa.

"Inovação

A Inovação é seguramente um dos domínios em que as empresas portuguesas podem e devem fazer mais investimentos no sentido de poderem ser cada vez mais competitivas.
Num momento histórico em que a indústria portuguesa deixa de poder competir na economia global com base em políticas de preços baixos, a aposta na Inovação adquire uma importância verdadeiramente incontornável.
Infelizmente, as políticas públicas de incentivo à Inovação continuam, do ponto de vista conceptual, a ser altamente restritivas. A indústria portuguesa é constituída por uma maioria esmagadora de micro, pequenas e médias empresas. Não obstante, em Portugal os modelos idealizados nesse âmbito apenas se adequam à realidade das grandes empresas, as quais, conforme é sabido, são uma pequena minoria do nosso tecido empresarial.
Com toda o respeito que é devido ao trabalho desenvolvido aos mais diversos níveis pelas grandes empresas, há todavia de assumir a coragem de ajustar as políticas de incentivos à Inovação à realidade das PME's.
Há que reconhecer os esforços desenvolvidos diariamente pelas PME's no sentido de inovarem em novos produtos, em novos processos de fabrico ou mesmo em novos paradigmas de organização.
Há que ter a consciência de que, nas PME's, a Inovação jamais poderá ser um departamento estanque das organizações, estando sim integrada de uma forma incindível em tudo o que é feito no dia-a-dia.
Há que estimular e reconhecer os avanços efectuados nesse domínio por pequenos empresários e respectivos trabalhadores.
E, mais ainda, há também que sensibilizar as empresas para a enorme amplitude do próprio conceito de Inovação.
Importa além disso continuar a apostar numa crescente aproximação entre as empresas e as universidades. E interessa igualmente explicar com pragmatismos que a Investigação não se reduz à investigação científica e tecnológica da mesma forma que a Inovação não se cinge à inovação tecnológica.
Enquanto Presidente da Direcção da AIMMAP, tenho o gosto de assumir igualmente o cargo de Director da "TecnoMetal".
Esta é uma revista que tem vindo a assumir-se como uma verdadeira referência no seu segmento editorial e que há muito foi pioneira na defesa de uma maior ligação da Indústria à Universidade.
Estou certo de que esta nossa revista pode pois ser um excelente veículo da disseminação dessa mensagem.
E todos teremos seguramente muito a ganhar com isso. A Indústria, a Universidade e o País.
Aníbal Campos
Presidente da Direcção da AIMMAP"