quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Estamos a perder os nossos ativos humanos

Na edição n.º 203 da revista “TecnoMetal”, o presidente da direção da AIMMAP e diretor da revista, Aníbal Campos, no seu editorial, chamou a atenção para um facto altamente inquietante para as empresas e para a economia portuguesa em geral.

Concretamente, referiu-se à fuga para o estrangeiro de jovens licenciados e trabalhadores qualificados de que as nossas empresas necessitam.

Lamentou particularmente a circunstância de tal situação estar a começar a envolver trabalhadores que já estavam empregados em Portugal mas que ainda assim preferem procurar um futuro melhor em empresas estrangeiras.

Tendo em conta a pertinência e a importância das palavras do presidente da AIMMAP, transcreve-se nas linhas subsequentes o referido editorial.

"Fuga de quadros e trabalhadores qualificados


É sabido que Portugal está a assistir desde há alguns anos a mais uma vaga de emigração.
Tendo sido Portugal, ao longo de várias décadas do século XX, um país marcado pela emigração, esta nova vaga não mereceria por si só uma grande reflexão.
Porém, a verdade é que desta vez há fatores e circunstâncias que são novos e geram preocupação acrescida.
No passado, os portugueses que emigravam eram pessoas normalmente com muito poucas qualificações que estavam disponíveis para trabalhos duros e mesmo violentos no sentido de fugir à pobreza.
Já a nova emigração, passou a ser constituída maioritariamente por jovens licenciados, que não encontram no país nem emprego, nem esperança.
Naturalmente, a fuga de cérebros em cuja formação Portugal havia investido tem de nos preocupar enquanto país e enquanto economia.
Mas pode aceitar-se os argumentos daqueles que defendem haver algumas vantagens resultantes da situação em causa. Nomeadamente, que o fenómeno contribui para reduzir o desemprego jovem em Portugal e que irá propiciar a criação de uma rede de inteligência portuguesa nos diversos cantos do mundo desenvolvido. E ainda que esses jovens irão regressar quando a situação económica do país melhorar, podendo então contribuir para a riqueza do país não só com aquilo foi o objeto da sua formação em Portugal como ainda com a experiência adquirida em boas empresas no exterior. 
Sucede porém que, nos últimos tempos, este fenómeno está a sofrer ajustamentos altamente inquietantes. E já não emigram apenas os licenciados desempregados ou à procura do primeiro emprego.
Na verdade, temos conhecimento – inclusivamente em empresas do setor metalúrgico e metalomecânico -, de várias situações em que jovens quadros ou trabalhadores altamente qualificados se despediram e foram trabalhar para o estrangeiro.
Este é seguramente o ponto mais baixo a que a uma economia dita desenvolvida pode chegar. O ambiente em que vivemos não atrai minimamente os quadros e técnicos de que necessitamos. E nem sequer cria condições para manter os que cá estão.
Pelo contrário, repele aqueles que mais falta fazem às nossas empresas: jovens quadros ou trabalhadores qualificados com alguma formação já feita na empresa e nos quais muito se apostava.
A razão invocada pelos nossos colaboradores que se despedem em direção à emigração é arrasadora. Não se trata apenas de ir ganhar mais dinheiro, mas sim de procurar uma carga fiscal menos pesada e mais previsível.
Em Portugal a carga fiscal é cada vez mais violenta. E como se isso não bastasse as regras estão sempre a mudar, sendo cada vez mais penalizadoras de quem cria riqueza. Pelo que, naturalmente, ninguém terá legitimidade moral para censurar aqueles que não estão dispostos a aceitar trabalhar nesse ambiente hostil e têm ainda a energia e a força suficientes para emigrar.
Mas no final do dia, todo o nosso país vai pagar uma fatura tremenda por causa desta fuga de quadros e trabalhadores qualificados.
As empresas já estão a sentir o anúncio dessa fatura. Perdem os seus quadros do futuro e não os conseguem substituir, uma vez que aqueles que eventualmente teriam capacidade para isso já emigraram também.
Se este fenómeno se agravar vamos seguramente descapitalizar as empresas portuguesas dos seus mais importantes ativos humanos. E nessa altura, mesmo que contra todas as expectativas a receita imposta pela troika venha a ter sucesso, ariscamo-nos a ficar com um orçamento equilibrado mas sem economia. Ao contrário do que se anda dizer, nós não vamos empobrecer. Vamos pura e simplesmente definhar!
O Presidente da Direção
Aníbal Campos"