segunda-feira, 18 de março de 2013

TecnoMetal entrevista Aníbal Campos

O Presidente da Direção da AIMMAP, Aníbal Campos, concedeu uma entrevista à revista “TecnoMetal”, publicada na edição n.º 204, na qual anunciou a sua recandidatura ao cargo que ocupa.

Aproveitou ainda para fazer um balanço do mandato agora prestes a findar e manifestar os projetos para os próximos 3 anos.

Atendendo à importância deste assunto, publica-se nas linhas subsequentes, na íntegra, o texto da entrevista em causa.

"TECNOMETAL entrevista Aníbal Campos, Presidente da Direção da AIMMAP“Estou disponível para um novo mandato como Presidente da Direção da AIMMAP”

Em entrevista à TecnoMetal, Aníbal Campos, Presidente da Direção da AIMMAP, anuncia a sua disponibilidade para se recandidatar ao mesmo cargo, fazendo um balanço do seu primeiro mandato e revelando os principais projetos para os próximos 3 anos.

1. Que balanço faz do trabalho realizado pela Direção a que presidiu neste mandato de 3 anos que agora está a concluir-se?
RESPOSTA: Sinceramente, entendo que o balanço será globalmente positivo. Naturalmente, prefiro que sejam outros a avaliar o trabalho que eu e toda a minha equipa realizámos. Mas se a questão me é colocada, tenho de reconhecer que sinto termos correspondido às expectativas que em nós depositaram os associados da AIMMAP quando nos elegeram.
Como é sabido, integrava já anteriormente a Direção da AIMMAP enquanto seu vice-presidente. Pelo que, não só estava profundamente identificado com a realidade da associação como me encontrava igualmente sintonizado com o trabalho que vinha a ser realizado pelas direções anteriores.
Quando assumi a presidência deixei claro que iria tentar prosseguir o bom trabalho em curso, sem prejuízo de pretender imprimir o meu próprio cunho pessoal não só em questões de forma como também de substância. No nosso programa de candidatura identifiquei inclusivamente três matérias que entendi que deveriam ser prioritárias: a formação, a internacionalização e a inovação. Sem falsas modéstias, julgo que foram concretizadas iniciativas muito importantes nessas três áreas. Para além disso, foi feito um trabalho altamente meritório numa área vital da associação como é a contratação coletiva. E sem prejuízo de muitas outras coisas importantes que foram realizadas, quero destacar ainda mais três pontos que me parecem essenciais. Em primeiro lugar o facto de termos cumprido sistematicamente os nossos orçamentos e de termos consolidado as nossas boas contas. Em segundo lugar, a circunstância de os nossos serviços terem sido eficientes e competentes no suporte aos associados, apoiando-os diariamente na resposta célere às questões por estes colocadas nas mais diversas áreas. Finalmente o facto de termos conseguido afirmar publicamente a AIMMAP bem como ajudado a conferir uma maior notoriedade ao setor metalúrgico e metalomecânico.

2. Quais foram as principais marcas deste mandato?
RESPOSTA: Quando trabalhamos empenhadamente em prol de interesses comuns, sempre que sentimos que as nossas iniciativas estão a surtir efeitos positivos para aqueles que representamos não podemos deixar de sentir uma grande satisfação. Consequentemente, depois de um mandato que foi sem quaisquer dúvidas intenso, é difícil selecionar um número restrito de iniciativas que nos tenham marcado pois a tentação é a de abordar todas.
Apesar disso, tendo que reduzir o leque, há talvez cinco, pelo seu simbolismo, talvez tenham sido as mais gratificantes.
Devo referir nesse âmbito, em primeiro lugar, a gestão dos processos negociais em sede de contratação coletiva. Sem falsas modéstias, atrevo-me a dizer que foi realizado por esta direção um trabalho altamente positivo para as nossas empresas. Tivemos a competência de outorgar com os sindicatos da UGT um novo contrato coletivo de trabalho que substituiu definitivamente os contratos obsoletos do passado e introduziu um conjunto de regras inovadoras e flexíveis que muito contribuíram para que as nossas empresas pudessem ser mais competitivas. Para além disso, conseguimos manter uma forte contenção salarial no setor, salvaguardando a competitividade das empresas e mesmo a própria viabilidade das nossas associadas que apresentam maiores dificuldades. E conseguimos ainda, muito recentemente, renovar o referido contrato coletivo, através de um acordo que teve inclusivamente uma forte tónica social consubstanciada na atualização para € 500,00 do salário mínimo em vigor no setor.
Outra iniciativa muito importante foi a implementação do Programa Formação-Ação, vocacionado para a formação de empresários. Diz-se por vezes que os empresários não estão disponíveis para receber formação. Mas nós desmentimos objetivamente essa especulação, levando a efeito sucessivas edições daquele programa, abrangendo até ao momento mais de uma centena de empresários e gestores.
Quero também destacar o trabalho que foi feito no domínio da internacionalização. Submetemos ao COMPETE diversos projetos de internacionalização, através dos quais ajudámos as nossas empresas a financiarem o seu trabalho em tal domínio, seja no âmbito de missões empresariais que a própria AIMMAP organizou, seja no quadro de participações conjuntas em feiras internacionais de referência que a nossa associação também promoveu. Para além disso, ainda nesse contexto, potenciámos que Portugal fosse o país convidado de honra da edição de 2011 do MIDEST – uma feira de referência da subcontratação industrial -, tendo promovido um conjunto de eventos que muito dignificaram o setor e o país. Finalmente, levámos a efeito uma iniciativa altamente inovadora, tendo constituído em conjunto com 17 empresas associadas uma sociedade comercial de direito brasileiro com sede em São Paulo, para promoção dos interesses comerciais das empresas que aderiram ao projeto em causa. Refiro-me concretamente à AIMMAP Brasil, a qual está a trabalhar desde julho de 2012. Essa foi uma iniciativa de que também muito nos orgulhamos, tendo contribuído em primeiro lugar para dar resposta às expectativas das empresas aderentes mas também para um reforço da notoriedade da nossa associação e do nosso setor.
Uma quarta marca que considero ter ficado registada no nosso mandato, consiste no trabalho que foi feito no domínio da cooperação e muito em especial numa iniciativa específica que caminha para a sua terceira edição: a compra de energia elétrica em grupo. A concretização desse projeto permitiu que as empresas associadas envolvidas obtivessem significativas poupanças no que concerne aos custos decorrentes do consumo de energia elétrica. Até ao momento abrangemos nessa iniciativa mais de 80 empresas, o que é um número já muito razoável.
Finalmente não posso deixar de fazer referência à realização de um estudo abrangente sobre o setor, o qual muito tem contribuído para que o setor seja mais reconhecido aos mais diversos níveis. A iniciativa de levar a efeito esse estudo partiu da direção anterior, presidida pelo meu Amigo António Saraiva, o qual faço questão de aqui saudar pelo excelente trabalho que também enquanto Presidente da CIP está a realizar.

3. O que acha que ficou por fazer?
RESPOSTA: Por muito que estejamos de consciência tranquila quanto ao trabalho realizado, é inevitável que fiquemos sempre com a sensação de que poderíamos ter feito mais. Mas devo dizer que apenas uma questão me deixa relativamente frustrado: o facto de não ter sido ainda possível reestruturar o movimento associativo no setor e concretizar a fusão entre as duas associações existentes. Num país como Portugal não faz sentido que continuem a existir mais do que uma associação em alguns setores – como é o caso do nosso. Estou plenamente convencido de que todos somos prejudicados pelo facto de haver mais do que uma associação no âmbito do setor metalúrgico e metalomecânico.

4. Qual é em sua opinião o estado atual do setor metalúrgico e metalomecânico?
RESPOSTA: É sempre muito difícil dar uma resposta a essa questão quando se está perante um setor tão vasto e tão heterogéneo como o setor metalúrgico e metalomecânico, o qual abarca inúmeras realidades distintas entre si.
Não obstante é possível dizer-se que, em termos globais, o nosso setor é sem quaisquer dúvidas o mais importante da indústria transformadora nacional, com um peso muito significativo nas exportações. Aliás, a esse respeito deve sublinhar-se o facto ter exportado em 2012 cerca de 13 mil milhões de euros, o que representa uma terça parte das exportações da indústria transformadora. Este número traduz um crescimento de 7% relativamente ao ano anterior, sendo ainda de destacar que o crescimento das vendas para fora da União Europeia foi de 50%.
É por outro lado notável verificar-se que o nosso setor, mesmo na atual conjuntura de forte contração da economia portuguesa, está a manter os respetivos postos de trabalho, havendo inclusivamente crescimento de emprego em muitas empresas. E é também de assinalar o facto de o setor estar a atrair investimento nacional e também estrangeiro, sendo porventura o único em que isso está a suceder de uma forma sistemática e não apenas pontual.
Para além do exposto há um conjunto de indicadores através dos quais se pode aferir a vitalidade e a evolução do setor. É aquele em que há mais investimento em investigação e desenvolvimento, o segundo da indústria transformadora em que mais se investe em propriedade industrial e o que tem mais empresas certificadas. E destaca-se ainda pelo crescimento da formação profissional ministrada, pela redução da sinistralidade laboral e também pelo cumprimento crescente de critérios de responsabilidade social.
Todos estes são números e indicadores muito relevantes para o setor no seu todo e que são cada vez mais reconhecidos pelos poderes públicos e pela sociedade civil.
Apesar de tudo, temos consciência de que nem todas as empresas do setor estão em condições de revelar a mesma saúde económica e financeira. Aquelas que se dirigem predominantemente aos mercados externos estão naturalmente melhor. Mas as que trabalham apenas para o mercado interno estão a sofrer fortemente as consequências da crise que afeta o nosso país. Como é óbvio, uma das nossas principais preocupações é precisamente ajudar a resolver muitos dos problemas com que as empresas mais fragilizadas se confrontam.

5. Está disponível para assumir um novo mandato na presidência da Direção da AIMMAP?
RESPOSTA: Posso anunciar que estou efetivamente disponível para assumir um segundo mandato como Presidente da AIMMAP. Devo dizer que não obstante me sinta honrado pelo facto de ter ocupado este cargo e mesmo orgulhoso pelo trabalho que sinto ter sido feito, não estava nos meus propósitos recandidatar-me. Parece um lugar comum mas neste caso é mesmo verdade. Todavia, acabei por ser sensível aos argumentos dos que me incentivaram a continuar mais 3 anos. Na verdade, algumas das iniciativas lançadas ao longo deste primeiro mandato ainda estão incompletas. Pelo que entendo ser minha responsabilidade prosseguir e concluir alguns desses projetos. Refiro-me concretamente, entre vários exemplos que também poderia citar a propósito do mesmo, ao programa de incentivo à inovação que estamos a conceber, às iniciativas de compra em grupo que gostaria de ter a oportunidade de ajudar a consolidar ou à operação que temos no Brasil e que enquanto responsável pela sua criação gostaria de acompanhar de perto até ao final.
Para além do exposto, tenho a consciência plena das enormes dificuldades com que o país se confronta. É inevitável que o nosso setor venha a sofrer em consequência dessa crise. E é também altamente provável que a própria AIMMAP venha a sofrer danos colaterais. Não ficaria bem comigo se não estivesse disponível para ajudar a enfrentar essas previsíveis dificuldades com que as nossas empresas e a nossa associação se confrontarão.
No seu conjunto, as razões atrás enunciadas foram decisivas para a minha decisão de ficar um segundo mandato.

6. E quais serão as principais prioridades para o novo mandato de 3 anos na Direção da AIMMAP?
RESPOSTA: A principal prioridade é genericamente a de ajudar as empresas associadas. E nesse sentido, pretendo que os nossos serviços continuem a prestar um serviço de excelência aos sócios no domínio da consultadoria.
Por outro lado, tendo presente que o principal problema que afeta as nossas empresas é a falta de liquidez, teremos a preocupação de contribuir para soluções que potenciem o seu financiamento e também a sua recapitalização.
Numa outra vertente, iremos promover iniciativas que ajudem a aumentar ainda mais as exportações. Queremos que as empresas que já exportam possam aumentar as suas vendas para o exterior e ao mesmo tempo diversificar os destinos dos seus produtos. E pretendemos igualmente ajudar os que ainda não exportam a passar a fazê-lo. Esse trabalho será implementado em primeiro lugar através dos nossos projetos de internacionalização. Mas também será desenvolvido através da criação de novas sociedades comerciais em mercados emergentes com grande potencial como por exemplo a Argélia e a Colômbia.
Continuaremos por outro lado a investir fortemente no sentido de estimular as nossas empresas a apostarem cada vez mais na inovação. Até ao momento tem sido feito um trabalho de preparação das iniciativas que agora iremos concretizar no caso de sermos reeleitos. É nosso propósito não só disseminarmos boas práticas de inovação como também ajudarmos as nossas empresas a acederem com maior facilidade aos fundos europeus para apoio nesse domínio. Para tal efeito, iremos continuar a realizar conferências e seminários com especialistas na matéria, sendo também nossa intenção criar um gabinete que auxilie os associados a montar projetos nessa área.
Vamos igualmente continuar a apostar fortemente na formação, nomeadamente a empresários e gestores no quadro do Programa Formação-Ação e também no domínio da iniciativa “Encontros com Tema” que será levada a efeito em articulação com a AFTEM.
A contratação coletiva vai continuar a merecer a nossa maior atenção, certos que estamos da enorme repercussão que a mesma tem na competitividade das empresas.
Outro ponto muito importante da nossa atividade continuará a ser a articulação que mantemos com as restantes entidades de suporte ao setor e em cuja gestão estamos envolvidos como são os casos, entre outros, do CATIM, do CENFIM, da AFTEM, da PRODUTECH, do INEGI e da CERTIF.
Finalmente, vamos continuar profundamente envolvidos nas estratégias delineadas e desenvolvidas pela CIP, a qual é e continuará a ser a legítima representante da indústria nacional no seu todo e o polo agregador do mundo empresarial português. É essencial que a CIP continue a ser o baluarte da economia de mercado e o único interlocutor do estado em representação das empresas. O trabalho desenvolvido pela CIP sob a liderança de António Saraiva tem sido verdadeiramente decisivo para a vida das empresas. Vamos continuar a contribuir com a nossa quota parte para que assim continue a suceder."

Reindustrializar Portugal

Na edição n.º 204 da “TecnoMetal”, Aníbal Campos, presidente da direção da AIMMAP e também diretor da revista em causa, chamou a atenção no seu editorial para o facto de o Ministro Álvaro Santos Pereira estar a aparentemente a dar alguma esperança ao país no sentido de poder vir a bater-se de forma decidida pela reindustrialização do país.

O assunto abordado pelo presidente da AIMMAP merece sem quaisquer dúvidas a maior reflexão por parte de todos os que se preocupam com o tema, sendo pois por tal motivo que se transcreve nas linhas subsequentes o referido editorial.

"Reindustrialização

Temos assistido nas últimas décadas a um lamentável processo de desindustrialização da economia portuguesa.
Acresce que a Europa no seu todo, com algumas honrosas exceções, tem feito exatamente a mesma coisa.
Contra a opinião daqueles que estão no terreno a procurar ciar riqueza e gerar emprego, os iluminados que nos têm governado tentaram criar a ilusão de que era possível sobreviver sem indústria.
No início deste século vinte e um vimo-nos atolados nesta crise, emergente em grande parte da teimosia de se insistir numa fantasia estapafúrdia.
Pouco a pouco, os europeus vão-se apercebendo do logro a que foram conduzidos e percebem que não é possível a Disneylândia que lhes foi prometida, sem produção industrial e consequentemente com cada vez menor conhecimento.
É já muito tarde para evitar os prejuízos causados por décadas de políticas irresponsáveis. Mas talvez seja possível remediar alguns males.
Parece haver no governo português um responsável com vontade de fazer alguma coisa neste domínio: o Ministro Álvaro Santos Pereira.
Depois de meses a fio asfixiado pela ditadura imposta pelo seu homólogo das Finanças, o Ministro da Economia e do Emprego está a conseguir finalmente afirmar publicamente as suas ideias. E depois de tanto tempo aparentemente divorciado dos problemas da realidade industrial portuguesa, o referido Ministro parece ter afinal algumas boas ideias sobre o assunto.
Antes tarde do que nunca! E seja bem vindo Senhor Ministro!
O país precisa de consolidar uma indústria transformadora forte. E para esse efeito, é fundamental um Ministro da Economia que conheça a indústria, que se identifique com os empresários e empreendedores e que inclusivamente tenha coragem de fazer frente ao Terreiro do Paço e a outros poderes inibidores da atividade empresarial.
Já tivemos oportunidade de dizer publicamente que o atual governo português tem excesso de finanças e défice de economia.
O Ministro da Economia parece querer dar-nos a esperança de poder vir a equilibrar essa contabilidade. Esperamos pois que não defraude as nossas expectativas e que seja consequente no seu propósito de ajudar a reindustrializar o país.
Para esse efeito é vital que visite as empresas, que fale com os empresários e que se articule com as associações.
Enquanto empresas, empresários e associações, conseguiremos seguramente contribuir com sugestões práticas importantes que o ajudarão a implementar as medidas mais ajustadas às necessidades do país.
E é caso para dizer diretamente ao Senhor Ministro: ajude-nos a ajudá-lo que o país irá agradecer!

O Presidente da Direção
Aníbal Campos"